Com 9 anos comecei a engordar, lembro da minha pediatra comentar alguma coisa como a crise dos 40kg aos 9 anos, eu ficava de olhos arregalados, mas não sabia exatamente oque fazer, nem entender.
Desde pequena fui envolvida com jogos, brincadeiras, rua, escola. Sempre fui muito ativa em tudo que fazia, pratiquei vôlei dos 8 aos 18 anos sem parar. Fiz aulas de dança, handball, basquete e patins. Tudo relacionado a esporte me encantava, teve um ano no meu primeiro grau que até pensei em fazer educação física. Eu não me importava com o meu sobrepeso fisicamente, até então eu não deixava de fazer as coisas por causa de uns quilos a mais, mas meu lado psicológico já se demonstrava bem abalado por uma série de motivos. Ser a mais gordinha ou uma das mais gordinhas da turma me incomodava também, mas era um sofrimento interno e até pequeno.
Com o tempo a história ficou diferente, me sentia insegura, envergonhada de muitas situações, me reservava em casa, não me sentia feminina nem capaz de um dia ser. Quando me interessava por algum garoto eu ficava quieta sofrendo ate passar porque sabia que não teria nenhuma chance, a insegurança só aumentava a cada ano que passava, não somente por estética.
Acho que aos 14 anos tentei alguma coisa com uns meninos e pro meu espanto oque eu tentava não me rejeitavam, era uma mistura de surpresa com desconfiança. Era a insegurança batendo em mim e me fazendo achar a situação tão impossível que só poderia ser uma brincadeira de muito mal gosto.
Dos 14 aos 18 eu engordei tanto que não conseguia acreditar, ai tinha a desculpa dos hormônios que de certa forma fazia sentido já que eu não parava em casa por muito tempo de tantos jogos e cursos que eu fazia nessa época. Quando resolvia comer com alguma colega elas sempre magras comiam 2 ou 3 x mais doque eu e eu não entendia nada, comecei a fazer regimes que não resultavam em mais doque perder 2kg e ganhar 3kg.
Quando sai da escola e me vi sozinha de diversas formas já que nunca consegui criar uma amizade duradoura e por insegurança e outras questões eu entrei em uma depressão sem limites, me isolei da sociedade de tal forma que seria impossível tentar explicar a dor que tinha dentro de mim, o vazio. Até de entrar em um ônibus eu me desesperava por medo de pessoas era bem esquisito e forte.
Os vinte anos chegaram, eu sem amigos e começando uma profissão que me encantava, comecei uma faculdade e de certa forma eu melhorei um pouco. Mas ai eu passei a usar computador o tempo inteiro porque meus cursos e profissão exigia isso e foi nisso que eu concentrei minhas forças em estudar e trabalhar muito e por conseqüência ganhei tanto peso que comecei a freqüentar endocrinologistas, nutricionistas e tantos médicos que não conseguiria sequer listar.
Nessa época descobri um problema com minha tireóide e insulina além de coisinhas menores que contribuíam silenciosamente pro meu aumento inconseqüente de peso e lentidão em muitos aspectos. Aquela menina que treinava de 4 a 5 horas de voleibol por dia já não estava no meu corpo de forma nenhuma.
A insegurança continuava lá com todo potencial, mas eu conseguia controlar até o ponto de trabalhar e estudar mas não de me relacionar efetivamente com as pessoas.
Nessa época arrumei um namoradinho bobo que me encantava e me fazia sofrer tanto, me dediquei a ele muito tempo, mas nada sério pra ele sequer aquilo foi um namoro talvez um experimento, a coisa acabou da mesma forma como começou, do absoluto nada, até que eu sofri um bocado. Passou.
O tempo foi passando a faculdade e o trabalho me fez melhorar com a parte de relacionamento beirando a normalidade e enfim eu me permiti me apaixonada de verdade por uma pessoa linda que me fez a mais confusa, perturbada e apaixonada das pessoas. Terminamos em um período que não sei de onde tirei forças para mudar minha vida em muitos aspectos e cheguei a perder 15kg em 2 meses só na base da alimentação e exercícios, estava disposta a ser feliz sozinha ou acompanhada. Acho que nessa época cheguei mto perto do corpo que eu queria e que me fazia feliz.
Acabamos voltando a namorar e namoramos muito tempo, mas no final da relação passei por um momento de crise de insegurança e outros problemas tão fortes que aquela pessoa linda maravilhosa, se transformou em mais um na multidão cheio de julgamentos, preconceitos e defeitos. O apoio que precisei e dei quando ele precisou de mim foi negado.
Ao contrário da primeira vez que rompemos o fim do relacionamento não foi simples nem fácil, cheguei a fazer coisas que me envergonho, passei por um ano complicado cometendo absurdos com minha vida e saúde, me envolvendo com pessoas que em sua maioria não me acrescentaram em nada, até pensei que estava criando boas amizades, mas o tempo sempre comprova quais são aquelas que valem a pena.
Também confesso que me tornei intolerante e sem grandes expectativas em relação as pessoas. Simplesmente não consigo me envolver emocionalmente com mais ninguém, é difícil, mas tenho bons motivos. Espero que isso mude naturalmente.
Por mais melodramático que meu texto pareça eu não sou uma pessoa absurdamente fechada hoje em dia, e sequer me faço de vítima, muitos me acham até divertida, eu saio com colegas, tenho uma vida social pequena, mas hoje ela existe. Não tenho doque reclamar em relação a muitas coisas.
É complicado falar sobre tudo isso e obviamente que to resumindo tudo as mínimas linhas possíveis, a história das minhas crises foram muito forte pra mim, as minhas cismas e medos são tão absurdos que jamais conseguiria me expressar.
Conto essa história pra mostrar pra quem um dia puder ler que um obeso não é sempre uma pessoa que escolhe a situação, mas vítima de uma série de coisas, de situações. Depressão não é para qualquer um e às vezes mesmo com ajuda médica a coisa continua difícil e sim eu tive auxilio de ótimos médicos, psicólogos e psiquiatras além de familiares pra chegar até aqui e mesmo não satisfeita tento todo dia a melhorar.
Nesse último período engordei ainda mais, cerca de 17kg em 2 anos e estou a 2kg de entrar na obesidade mórbida. É triste e feio e é vergonhoso sim, as vezes me pego pensando o quão fraca eu fui em todos meus problemas.
Sei que minha obesidade vem das minhas fraquezas psicológicas, mas existem coisas que parecem ser mais fortes doque você durante um bom tempo.
Tem alguns meses, uns 8 meses que me sinto mais estável em relação a tudo, aos meus pensamentos e convicções e é mais ou menos há esse tempo que tenho colocado a gastroplastia como possibilidade de mudança de vida, ao contrário de algumas pessoas eu sei perfeitamente onde estou metendo meus pés, sei dos riscos, da possibilidade de complicações, mas eu também sei o quanto eu preciso desse recomeço mesmo que seja difícil sei que isso pode melhorar minha vida em todos os sentidos.
Sei que existem outros métodos para perder peso, mas sei também que já passei pela maioria deles.
Só estou tentando fazer da minha vida algo melhor e eu vou conseguir.
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